ia dizer porque nem sempre eu era claro ou sequer sabia o que estava dizendo. Melhorei bastante, mas nenhum texto é imune às surpresas pregadas pela liberdade interpretativa dos leitores, principalmente quando o autor quer transformar o mundo em vez de dizer algo mais palpável.

Me pergunto o que os novos critérios de Hollywood teriam feito com "Laços de Ternura", Oscar de melhor filme em 1984, centrado numa complexa relação entre mãe e filha, ambas brancas, heterossexuais, classe média-alta, cercadas por coadjuvantes igualmente brancos. Prefiro não pensar nos estragos causados ao maravilhoso "Muito Além do Jardim" (1979), com protagonistas brancos, alguns multimilionários, enquanto negros secundários e esporádicos faziam o papel de negros secundários e esporádicos.

A coisa é pior do que parece, pois não bastará a menção a grupos marginalizados ou improváveis nas telas. Um dos aspectos mais perversos da censura ideológica é que ela não apenas define aquilo que pode ser mostrado, mas COMO aquilo deve ser mostrado. Que ninguém se atreva a abordar a minoria X, Y ou Z sem agradar ao dirigismo temático de Hollywood, mesmo que os roteiristas e diretores pertençam às tais minorias. Peço um minuto de silêncio para negros, gays, deficientes e afins que simplesmente não queiram falar sobre suas diferenças ou que pretendam mostrá-las sem as lentes validadas pelo olimpo hollywodiano. Outro minuto de silêncio para os excelentes profissionais que nunca terão vez no mercado porque seus talentos não contribuirão para um mundo “mais igualitário e inclusivo”.

Tomara que eu esteja errado, mas consigo prever a ascensão de oportunistas e patotas fechadas, a produção de obras paradidáticas que serão fracassos de bilheteria (como já acontece), equipes de criação forçando a barra para satisfazer Hollywood e o chefe do projeto aos gritos: já falei mil vezes que precisamos botar a pºhh@ de um v1^d0 na história! Por outro lado, veremos cada vez mais alternativas para profissionais e audiências desinteressadas em transformações utópicas.

Se as novas regras de Hollywood não funcionarem a contento, paciência. Nada de desespero. Ainda há muita gente contribuindo para um mundo melhor e você nem precisa assistir à entrega do Oscar para conhecê-las. Basta fazer unhas com a Dirce, encher o tanque do carro com o Camilo, ler um bom texto ou ser atendido pelas moças do Delírio Tropical da Gávea.

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